A trégua do presidente americano Donald Trump nas tarifas comerciais durou menos de 24 horas. Apesar de um recuo inicial, os impostos sobre importações da China aumentaram, e a tarifa universal de 10% sobre importações permanece em vigor. A questão central é clara: quem pagará essa conta?
Paul Donovan, economista-chefe do UBS Global Wealth Management (GWM), oferece uma análise perspicaz sobre essa montanha-russa tarifária. Segundo Donovan, a imposição dessas novas taxas significa que os consumidores americanos terão que usar sua renda para arcar com esses custos adicionais. É importante lembrar que nenhuma dessas tarifas existia há apenas uma semana. Além disso, impostos mais elevados sobre produtos específicos permanecem em vigor, e novas medidas são prometidas.
O economista do UBS GWM estima que as tarifas efetivas estão cerca de 20 pontos percentuais mais altas do que no início do ano. Isso se traduz em um aumento de aproximadamente 2% a 2,5% nos níveis de preços dos Estados Unidos. Embora a China possa tentar mitigar parte desse impacto para os consumidores americanos através do redirecionamento de sua cadeia de suprimentos, a pressão sobre os preços é inegável.
Diante desse cenário, Donovan avalia que o risco de recessão nos EUA diminuiu em relação ao dia anterior, mas ainda permanece elevado. As reviravoltas repentinas na política comercial levantam sérias questões sobre a competência e a previsibilidade das decisões. A “confusão caótica” em torno das tarifas sobre o México e o Canadá, mencionada pelo economista, sugere a ausência de um plano estratégico coeso.
Para os demais países, a estratégia de “resistir e esperar que Trump recue” parece ser a mais sensata, na visão de Donovan. A incerteza política repetida certamente prejudicará o investimento nos Estados Unidos, tornando o ambiente de negócios menos atrativo para empresas estrangeiras.
Na agenda econômica americana, está a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) de março. No entanto, Donovan ressalta que esses dados refletem um período anterior às recentes mudanças tarifárias. Embora algumas empresas possam aumentar os preços antecipando os impostos, é mais provável que esse impacto seja sentido nos preços ao produtor. A inflação liderada pelos lucros dos varejistas dependerá da percepção dos consumidores sobre a aplicação efetiva das tarifas.
Em resumo, a breve “lua de mel” tarifária de Trump chegou ao fim, deixando um cenário de incerteza e custos mais elevados para o consumidor americano. A imprevisibilidade da política comercial dos EUA e a falta de um plano claro levantam preocupações sobre o futuro da economia e do comércio global.