Mercados em alerta: relação China-EUA e “Basis Trade”

Investidores apreensivos com potenciais impactos na economia global

Texto adaptado de ZeroHedge

Os mercados financeiros globais estão em uma verdadeira montanha-russa, com oscilações bruscas e inesperadas. O principal motivo dessa instabilidade crescente é a escalada da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, que ganhou um novo capítulo com retaliações chinesas e um movimento técnico complexo no mercado de títulos americano, conhecido como “basis trade”, que explodiu, elevando os juros das dívidas soberanas e derrubando as bolsas.

A retaliação chinesa e o aumento das tarifas

Na mais recente reviravolta dessa disputa comercial, a China respondeu às novas tarifas impostas pelo governo americano, liderado pelo então presidente Trump, anunciando um aumento de tarifas sobre produtos importados dos EUA, elevando a taxação para 84%. Essa medida veio após um período de incerteza, em que a China sinalizou uma disposição para “comunicar com os EUA”, mas também alertou que retaliaria caso as tarifas americanas fossem mantidas ou aumentadas.

Essa retaliação chinesa teve um impacto imediato nos mercados futuros de ações, que já vinham sofrendo com a instabilidade gerada pelo colapso do “basis trade”. Após a notícia da China, os futuros de ações americanas, que chegaram a ensaiar uma recuperação, voltaram a cair, intensificando as perdas.

O misterioso “Basis Trade” e a disparada dos juros

Um dos fatores mais complexos e que está contribuindo significativamente para a turbulência nos mercados é o colapso do chamado “basis trade”. Esse tipo de operação financeira envolve a exploração de pequenas diferenças de preço entre contratos futuros de títulos do Tesouro americano e os títulos à vista (os títulos propriamente ditos). É uma estratégia que, embora possa gerar pequenos lucros, envolve um alto nível de endividamento e pode se tornar extremamente arriscada em momentos de volatilidade.

O que aconteceu é que, por razões técnicas complexas, essa operação começou a se desfazer de forma desordenada, gerando vendas forçadas no mercado de títulos do Tesouro americano. Essa avalanche de vendas fez com que os preços dos títulos caíssem e, consequentemente, os juros (ou “yields”) disparassem, tanto nos EUA quanto em outros países desenvolvidos.

Essa alta repentina dos juros tem um impacto negativo nas bolsas de valores, pois torna o custo do crédito mais caro para empresas e consumidores, além de tornar os títulos de renda fixa mais atraentes em comparação com as ações. O resultado é uma pressão de baixa sobre os preços das ações.

O impacto nos investimentos “balanceados”

A combinação da queda nas bolsas com a alta nos juros dos títulos está causando um estrago nos portfólios de investimento considerados “balanceados”, que geralmente alocam uma parte dos recursos em ações e outra em títulos de renda fixa (como a tradicional estratégia “60/40”).

Tradicionalmente, quando as ações caem, os títulos tendem a subir (ou cair menos), oferecendo uma proteção ao portfólio. No entanto, com a queda simultânea de ambos, esses investidores estão vendo seus investimentos se desvalorizarem significativamente.

O que mais está acontecendo nos mercados

  • Ações de tecnologia (Mag 7): as ações das grandes empresas de tecnologia americanas (conhecidas como “Mag 7”) apresentaram um desempenho misto antes da abertura dos mercados, refletindo a incerteza geral.
  • Setor farmacêutico: as ações de empresas farmacêuticas americanas caíram após o então presidente Trump anunciar planos de impor “uma grande tarifa” sobre o setor em breve.
  • Ações chinesas listadas nos EUA: as ações de empresas chinesas listadas nas bolsas americanas, que chegaram a subir inicialmente, perderam força ou caíram após a China anunciar suas tarifas retaliatórias.
  • Outras empresas em destaque: houve movimentos significativos em ações de empresas específicas devido a resultados financeiros, mudanças de recomendação de bancos e eventos específicos do setor (como no caso de produtores de ovos e empresas de energia).

A visão dos especialistas e os riscos no horizonte

Analistas de mercado e economistas estão cada vez mais preocupados com a escalada da guerra comercial e seus potenciais impactos na economia global. Alguns, como os do JPMorgan e Goldman Sachs, já aumentaram a probabilidade de uma recessão nos Estados Unidos. Uma recessão complicaria ainda mais a atuação do Federal Reserve (o banco central americano), que teria que lidar com uma possível alta da inflação causada pelas tarifas, ao mesmo tempo em que a economia estaria desacelerando.

Há também uma crescente preocupação com a estabilidade do sistema financeiro, com o aumento da volatilidade e do estresse nos mercados. Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, alertou para um colapso “único na vida” nas ordens monetária, política e geopolítica. Outros especialistas alertam para o risco de “acidentes de mercado” e até mesmo problemas sistêmicos caso a volatilidade continue alta.

O impacto na Europa e na Ásia

A turbulência não se restringe aos Estados Unidos. As bolsas europeias também registraram quedas significativas, com todos os setores em baixa. As ações de empresas farmacêuticas e de energia foram as mais afetadas. Os custos de empréstimo no Reino Unido atingiram os níveis mais altos desde 1998, e os juros dos títulos japoneses de longo prazo também dispararam.

Na Ásia, as bolsas também fecharam majoritariamente em queda, com as tarifas americanas já em vigor impactando o sentimento dos investidores. A Coreia do Sul viu suas ações entrarem em território de “bear market” (mercado em baixa prolongada).

Um cenário de incerteza e volatilidade

O cenário atual é de grande incerteza e volatilidade nos mercados financeiros globais. A escalada da guerra comercial entre China e Estados Unidos, combinada com o colapso do “basis trade” e a consequente alta dos juros, está gerando um ambiente de aversão ao risco e derrubando os preços de ações e títulos.

Os investidores estão apreensivos com os potenciais impactos na economia global e com a possibilidade de problemas mais sérios no sistema financeiro. A atenção agora se volta para as próximas decisões dos governos e dos bancos centrais, que terão a difícil tarefa de tentar acalmar os mercados e evitar uma crise econômica mais profunda.

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