Futuros recuam nos EUA à espera de dados de inflação

Percepção de que tarifas possam alterar dinâmica de nível de preços preocupam

Os mercados financeiros globais viveram um dia de montanha-russa nesta quinta-feira, após uma reviravolta inesperada do presidente dos EUA, Donald Trump, em relação às tarifas de importação. A decisão inicial de reduzir temporariamente as altas taxas sobre diversos países, ao mesmo tempo em que elevava as tarifas sobre a China, gerou forte reação nos índices de ações americanos.

Na quarta-feira, após a entrada em vigor de novas tarifas sobre grande parte dos parceiros comerciais dos EUA, o S&P 500 registrou seu maior ganho percentual diário desde 2008, e o Nasdaq teve seu melhor dia desde 2001. Essa alta expressiva refletiu um alívio inicial dos investidores com a perspectiva de uma guerra comercial menos intensa.

No entanto, a euforia durou pouco. Trump também anunciou uma pausa de 90 dias em muitas de suas novas tarifas recíprocas, mas elevou as taxas sobre importações chinesas de 104% para 125%. Pequim, em resposta anterior, havia imposto tarifas de 84% sobre produtos americanos.

Analistas do Rabobank alertam que a disputa comercial está se transformando em um confronto direto entre Estados Unidos e China. Essa dinâmica pode levar a momentos de escalada e desescalada simultâneos, impulsionando os mercados em direções opostas. Apesar da forte alta de quarta-feira, o S&P 500 e o Dow Jones ainda se encontram cerca de 4% abaixo dos níveis anteriores ao anúncio das tarifas recíprocas na semana passada.

Os futuros de ações dos EUA indicavam forte queda antes da abertura do mercado, com os megacaps e ações de crescimento, como Tesla (TSLA) e Nvidia (NVDA), recuando após ganhos significativos na sessão anterior.

Os investidores agora estão de olho nos dados de inflação ao consumidor (CPI) de março, que serão divulgados ainda hoje. Há preocupações de que as tarifas de Trump possam prejudicar o crescimento global e impulsionar a inflação. Economistas consultados pela Reuters esperam uma desaceleração da inflação anual para 2,6%, ante 2,8% no mês anterior.

Analistas da Nordea alertam para riscos de baixa na economia e sugerem que, se o impacto no crescimento for maior do que o esperado ou se o mercado de títulos do Tesouro dos EUA apresentar problemas, o Federal Reserve (Fed) pode ser forçado a implementar uma série de cortes de juros e intervenções de mercado. Atualmente, operadores precificam pelo menos três cortes de 0,25 ponto percentual nos juros americanos este ano, começando em junho.

Além dos dados de inflação, será divulgado o relatório semanal de pedidos de seguro-desemprego, e diversos membros do Fed farão aparições públicas ao longo do dia, o que pode trazer mais pistas sobre a política monetária futura.

Enquanto isso, o mercado de títulos dos EUA se mostrava mais calmo após uma forte liquidação na sessão anterior, com o rendimento do título de 10 anos recuando para 4,288%. O índice de volatilidade CBOE (VIX), conhecido como o “termômetro do medo” de Wall Street, também caiu de seus picos de agosto.

A temporada de balanços corporativos nos EUA, que começa com os resultados do primeiro trimestre de grandes bancos como o JPMorgan Chase (JPM) na sexta-feira, poderá oferecer mais informações sobre a saúde da economia americana e o impacto das políticas comerciais.

Comércio e Tarifas: Um Panorama Global

A decisão de Trump de pausar algumas tarifas foi motivada, segundo ele, pelo desejo de não prejudicar países que não precisam ser afetados. No entanto, as tarifas setoriais ainda estão nos planos. O presidente americano também se mostrou otimista em relação a um futuro acordo comercial com a China, minimizando preocupações com uma escalada fora da guerra comercial.

A Casa Branca esclareceu que a pausa de 90 dias não se aplica às tarifas sobre Canadá e México, com a taxa de 25% sobre o comércio não abrangido pelo USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá) permanecendo em vigor, exceto para a tarifa de 10% sobre energia e potássio.

O Secretário de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, espera que a União Europeia (UE) adie sua planejada retaliação tarifária após o anúncio de Trump. Paralelamente, o Financial Times reportou que a UE considera comprar mais gás dos EUA devido à pressão tarifária americana.

A China, por meio de seu Ministério das Relações Exteriores, afirmou que tomará mais medidas para se opor às ações dos EUA, visando proteger sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento. O país asiático declarou não querer uma guerra comercial, mas que não temerá se for confrontado. O Ministério do Comércio chinês reconheceu o aumento significativo dos desafios ao comércio exterior, mas ressaltou a resiliência do setor e afirmou que a porta para negociações permanece aberta, desde que não haja pressão ou chantagem.

O Ministro do Comércio da China expressou a disposição do país em resolver as diferenças por meio de consultas e negociações, mas reiterou que, se os EUA insistirem em seu caminho, a China lutará até o fim. Ele classificou as chamadas “tarifas recíprocas” dos EUA como uma séria violação dos interesses legítimos de todos os países. O ministro também se reuniu com o chefe de comércio da UE, Maroš Šefčovič, e discutiu o aprofundamento da cooperação comercial, de investimento e industrial entre China e UE, além de abordar questões de transferência de comércio e o tratamento adequado de atritos comerciais.

A Associação de Comércio Eletrônico de Shenzhen, representando mais de 3.000 vendedores da Amazon (AMZN), alertou que as tarifas dificultam a sobrevivência no mercado americano, podendo levar ao colapso de pequenas e médias empresas e acelerar o desemprego na China.

O Ministro da Economia do Japão, Yasutoshi Nishimura, planeja visitar os EUA na próxima semana para se encontrar com a Secretária do Tesouro americano, Janet Yellen.

O Primeiro-Ministro do Canadá, Justin Trudeau, considerou a pausa nas tarifas recíprocas um alívio bem-vindo para a economia global, mas observou que o sinal de Trump de se engajar em negociações bilaterais provavelmente resultará em uma reestruturação fundamental do sistema de comércio global.

O Reino Unido e a Índia afirmaram ter concordado com 90% de seu acordo de livre comércio.

Europa Reage Positivamente, Mas Futuros Americanos Recuam

As bolsas europeias abriram em forte alta, reagindo positivamente às últimas atualizações sobre as tarifas de Trump. No entanto, os índices perderam um pouco de força ao longo do dia, possivelmente devido a realização de lucros após os ganhos expressivos. Todos os setores europeus operavam no verde, impulsionados pelo apetite por risco. O setor bancário, que havia sido impactado pela incerteza nos rendimentos causada pelas tarifas, apresentou um desempenho superior. Os setores de recursos básicos e tecnologia também se beneficiaram do tom positivo do mercado.

Em contraste, os futuros de ações dos EUA operavam em queda generalizada, devolvendo parte dos ganhos significativos da sessão anterior.

A TSMC (TSM), importante fabricante de semicondutores, divulgou uma receita de março e vendas do primeiro trimestre acima das expectativas. A MediaTek também reportou um aumento nas vendas de março.

Mercado Cambial e Renda Fixa:

O dólar americano (USD) se enfraqueceu em relação à maioria das moedas após uma recuperação na véspera, impulsionada pelo anúncio de Trump. A decisão do presidente americano melhorou as perspectivas para o comércio global e sustentou o sentimento de risco no mercado cambial. No entanto, as tensões persistem, e um alívio duradouro dependerá de a pausa nas tarifas se tornar permanente. A elevação das tarifas sobre a China também adiciona um elemento de incerteza. O foco do dia se volta para os dados de inflação dos EUA.

O euro (EUR) se valorizou em relação ao dólar após uma sessão volátil na quarta-feira. A libra esterlina (GBP) também ganhou força em relação ao dólar, mas perdeu para o euro. As moedas da Oceania (AUD e NZD) também se fortaleceram frente ao dólar, embora o dólar australiano tenha apresentado um desempenho mais moderado devido às persistentes tensões entre EUA e China. O Banco Popular da China (PBoC) fixou a taxa de câmbio de referência do yuan (CNY) em um nível mais forte do que o esperado.

No mercado de renda fixa, os Treasuries dos EUA (títulos do Tesouro americano) se recuperaram após uma queda na quarta-feira, beneficiados pela pressão nos futuros de ações e pelo alívio nas preocupações com o mercado de títulos. Os Bunds alemães (títulos alemães) operavam em queda, refletindo o apetite por risco nos mercados europeus. Os Gilts britânicos (títulos do governo do Reino Unido) apresentaram alta inicial, mas recuaram, indicando que a situação fiscal do Reino Unido continua sendo uma preocupação para o mercado. A Espanha realizou uma emissão de títulos com demanda robusta.

Commodities:

Os preços do petróleo recuavam, devolvendo parte dos ganhos impulsionados pela decisão de Trump na sessão anterior. Os metais preciosos apresentavam um desempenho misto, com o ouro continuando sua trajetória de alta, enquanto a prata operava em baixa. Os metais básicos foram impulsionados pelo tom positivo do mercado, com o cobre registrando ganhos significativos. A Câmara de Mineração do Peru previu um aumento na produção de cobre do país em 2025.

Dados Econômicos e Notícias Relevantes:

Diversos dados econômicos foram divulgados na Europa, incluindo a pesquisa do mercado imobiliário do Reino Unido (RICS), que mostrou uma queda significativa, e a produção industrial da Itália, que também apresentou contração. Institutos econômicos alemães revisaram para baixo a previsão de crescimento do PIB da Alemanha para 2025.

Autoridades do Banco Central Europeu (BCE) e do Federal Reserve (Fed) fizeram comentários sobre a situação econômica e as políticas monetárias. O presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, afirmou que as coisas mudaram dramaticamente com a pausa nas tarifas e que haverá um impacto menor na inflação se a medida perdurar, mas alertou que a incerteza ainda pode causar uma desaceleração econômica.

O presidente Trump assinou ordens executivas visando a desregulamentação, a restauração da dominância marítima e a modernização das aquisições de defesa. O Senado dos EUA confirmou Paul Atkins como presidente da Securities and Exchange Commission (SEC). A votação do projeto de orçamento de Trump foi cancelada na Câmara devido à oposição conservadora.

No cenário geopolítico, Trump reiterou que o Irã não pode ter armas nucleares e mencionou a possibilidade de ação militar com o envolvimento de Israel. Os EUA e a Rússia realizaram uma troca de prisioneiros em Abu Dhabi.

O mercado de criptomoedas também foi impulsionado pelo sentimento de risco positivo, com o Bitcoin ultrapassando a marca de US$ 81 mil.

Mercados Asiáticos:

As ações asiáticas registraram forte alta, acompanhando o rali histórico de Wall Street. O índice ASX 200 da Austrália liderou os ganhos, impulsionado pelos setores de tecnologia e energia. O Nikkei 225 do Japão também teve um desempenho expressivo. Em Hong Kong e na China continental, os ganhos foram mais moderados devido ao aumento das tarifas americanas sobre produtos chineses e a relatos de que líderes chineses se reunirão para discutir medidas de estímulo.

Dados econômicos da China mostraram uma queda no Índice de Preços ao Consumidor (CPI) e no Índice de Preços ao Produtor (PPI) em março. O Japão divulgou dados de preços de bens corporativos acima das expectativas.

Este cenário complexo e volátil destaca a sensibilidade dos mercados globais às políticas comerciais e às tensões geopolíticas, reforçando a importância de acompanhar de perto os indicadores econômicos e os desdobramentos nas relações entre as principais potências econômicas.

(Com Reuters e ZeroHedge)

Compartilhe

plugins premium WordPress