Copom revela temor com política fiscal e desancoragem

Preocupações sobre arcabouço e deterioração das expectativas de inflação em foco

O Copom divulgou a ata de sua última reunião nesta terça-feira (12), com observações sobre o rumo da economia brasileira e as perspectivas para a condução da política monetária.

Em linhas gerais, o colegiado permanece preocupado com dois pontos principais: a condução da política fiscal e a desancoragem das expectativas de inflação.

O prolongamento do anúncio do pacote fiscal evidencia as dificuldades nas negociações em Brasília e aumenta receios em relação ao cumprimento do arcabouço nos próximos anos.

Recentemente, o relatório Focus mostrou elevação nas projeções de inflação para 2024, 2025 e 2026 diante da deterioração das expectativas.  

Previsibilidade e transparência

Frente à questão fiscal, o comitê pondera que uma “política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.

O Copom avalia que a “percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas”

“O Comitê incorpora em seus cenários uma desaceleração no ritmo de crescimento dos gastos públicos ao longo do tempo e reforça a necessidade da sustentabilidade das regras fiscais”, pondera o Copom, diante do mutualismo na condução das políticas fiscal e monetária.

Ancoragem fundamental

O colegiado demonstra preocupação diante da desancoragem das expectativas de inflação, sendo “fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê. A reancoragem das expectativas é um elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta ao menor custo possível em termos de atividade”.

“O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e reflitam o papel fundamental das expectativas na dinâmica de inflação”, avalia.

Caso haja deterioração adicional nas projeções do Focus, poderá ocorrer “prolongamento do ciclo de aperto de política monetária”.

Neste sentido, cabe destacar o compromisso da autoridade monetária com o cumprimento da meta de inflação, levando em conta o difícil controle do nível de preços quando ocorre desestabilização – vide década de 1980.

Assimetria altista

No balanço de riscos da autoridade monetária, existe “assimetria altista”, destacando-se os seguintes: (i) prolongamento da desancoragem nas expectativas; (ii) resiliência na inflação de serviços diante do hiato do produto mais apertado e (iii) conjunção de políticas econômicas externa e interna com impacto na inflação via depreciação persistente na taxa de câmbio.

Em contrapartida, existem riscos de baixa caso haja uma desaceleração mais acentuada do crescimento global e maiores impactos da contração monetária sobre a desinflação no mundo.

Compromisso mantido

O Copom julgou ser prudente na condução da política monetária através do aumento de 50 pontos-base no juro básico, para 11,25% ao ano.

Na comunicação, observa-se “firme compromisso de convergência da inflação à meta”, sendo a decisão “compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”.

“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, diz o colegiado.

A magnitude total do ciclo de aperto monetário dependerá da evolução inflacionária, “em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.


Confira o documento completo do Copom




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