Ajuste fiscal brasileiro não evolui mesmo com avanço das receitas

Resultado do controle de gastos ainda é incipiente para objetivo de zerar déficit primário

Em análise divulgada na última terça-feira (8), o Inter aponta que o resultado fiscal do governo brasileiro apresentou melhora em fevereiro na comparação com o mesmo período do ano anterior, “devido à alteração na data de pagamento dos precatórios, que em 2024 foi concentrada em fevereiro”.

“Excluindo o pagamento dos precatórios, no acumulado do ano, o resultado foi semelhante ao mesmo período em 2024, R$85 bilhões de superávit primário consolidado no primeiro bimestre, e mostra que o ajuste fiscal não evoluiu, mesmo após o significativo crescimento das receitas”, avalia a economista-chefe do Inter Rafaela Vitória.

No segundo mês do ano, as receitas cresceram 2,3% em termos reais, porém as despesas subiram acima de 4% (excluindo os precatórios) – na base de comparação anual. “Apesar das medidas fiscais aprovadas e do pente fino anunciado pelo governo, o resultado efetivo do controle do crescimento de gastos ainda é incipiente para o objetivo de zerar o déficit primário no ano.”

Estimativa ainda é de cumprimento da meta

A projeção do Inter é de déficit primário próximo de R$ 75 bilhões em 2025, cerca de 0,6% do PIB, “em linha com o cumprimento da meta considerando a banda inferior e o pagamento de precatórios”. Por outro lado, “o maior risco de recessão global e a forte queda dos preços das commodities pode impactar a evolução da arrecadação nos próximos meses, o que exigirá um controle de gastos mais efetivo para o alcance da meta no ano”.

O endividamento público chegou a 76,2% do PIB em fevereiro, o que representa uma alta de 0,55 ponto percentual em relação a janeiro. “O custo da dívida segue em alta, acompanhando a subida da Selic e aceleração da inflação”, avalia a instituição.

“A trajetória de crescimento da dívida deve continuar, resultado do significativo volume de despesas com juros. O risco fiscal e a demanda aquecida pressionando a inflação resultam em juros mais altos. Já o risco de recessão global pode ter um impacto maior no crescimento do PIB e pressionar ainda mais o endividamento público, com pouca visibilidade de redução mais significativa dos juros no curto prazo”, diz o Inter.

Por último, a economista ressalta a necessidade de manutenção de políticas anticíclicas em períodos de crescimento diante da nova crise global que se desenha.

Veja explicativo sobre política anticíclica:

A economia na gangorra

Imagine a economia como uma gangorra. Às vezes ela sobe (crescimento, mais empregos), outras vezes desce (recessão, mais desemprego). A política anticíclica é como um esforço para manter essa gangorra o mais equilibrada possível, evitando grandes solavancos para cima ou para baixo.

Para que serve?

O objetivo principal é suavizar os altos e baixos da economia. Quando a economia está aquecida demais, com preços subindo muito rápido (inflação), a política anticíclica tenta esfriar as coisas. Quando a economia está fria, com pessoas perdendo emprego e empresas fechando, ela tenta aquecer a atividade.

Como funciona na prática?

O governo e o Banco Central (a “autoridade monetária”) usam algumas ferramentas principais:

1. Política Fiscal (o governo controlando os gastos e impostos):

Na “subida” da gangorra (economia aquecida):

Aumentar impostos: Tirar mais dinheiro das pessoas e empresas pode diminuir o consumo e os investimentos, ajudando a controlar a inflação.

Diminuir os gastos do governo: Reduzir investimentos em obras públicas, programas sociais, etc., também diminui a demanda na economia.

Na “descida” da gangorra (economia fria):

Diminuir impostos: Deixar mais dinheiro com as pessoas e empresas pode incentivar o consumo e os investimentos.

Aumentar os gastos do governo: Investir em obras públicas, programas sociais, etc., injeta dinheiro na economia, criando empregos e estimulando a atividade. Um exemplo famoso no Brasil foi o auxílio emergencial durante a pandemia de COVID-19.

2. Política Monetária (o Banco Central controlando a quantidade de dinheiro e as taxas de juros):

Na “subida” da gangorra (economia aquecida):

Aumentar a taxa de juros (como a Selic no Brasil): Juros mais altos tornam o crédito mais caro para pessoas e empresas, desincentivando empréstimos, consumo e investimentos, o que ajuda a controlar a inflação.

Diminuir a quantidade de dinheiro em circulação: O Banco Central pode vender títulos públicos, “tirando” dinheiro do mercado.

Na “descida” da gangorra (economia fria):

Diminuir a taxa de juros: Juros mais baixos tornam o crédito mais barato, incentivando empréstimos, consumo e investimentos.

Aumentar a quantidade de dinheiro em circulação: O Banco Central pode comprar títulos públicos, “colocando” dinheiro no mercado.

Exemplos para entender melhor:

Em uma recessão: o governo pode reduzir o imposto de renda para que as pessoas tenham mais dinheiro para gastar, ou pode construir mais escolas e hospitais, gerando empregos. O Banco Central pode reduzir a taxa de juros para facilitar a compra de carros e casas.

Em um período de inflação alta: o governo pode aumentar impostos sobre produtos de luxo para diminuir o consumo desses itens. O Banco Central pode aumentar a taxa de juros para tornar mais difícil conseguir empréstimos para comprar a prazo.






Compartilhe

plugins premium WordPress