Confira texto adaptado sobre a opinião de Paul Donovan, economista-chefe do UBS GW.
Já ouviu alguém falar com saudade dos “bons tempos” em que as fábricas eram o motor da economia, gerando muitos empregos? Essa ideia de um passado industrial glorioso é um sentimento forte, inclusive na política. Mas será que essa “nostalgia da manufatura” reflete a realidade da economia moderna?
A Nostalgia como Força Política
A própria palavra “nostalgia” tem uma história curiosa. Criada na Suíça, originalmente significava um desejo intenso de voltar para o lar do passado. Chegou a ser considerada uma doença mental! Hoje, o que chamamos de “nostalgia restauradora” – aquela vontade de recriar um passado que idealizamos como positivo – influencia muito as decisões políticas.
Um exemplo claro disso é o foco de muitos políticos em prometer e tentar trazer de volta empregos na indústria. Mas, assim como aconteceu com a agricultura, à medida que um país se desenvolve economicamente, é natural que a quantidade de pessoas trabalhando nas fábricas diminua.
Por Que a Indústria Emprega Menos?
Imagine a Inglaterra no final do século XIX. Havia uma forte “nostalgia restauradora” por um estilo de vida rural, uma visão romantizada do campo que, na verdade, nunca existiu daquela forma. Da mesma maneira, a idealização dos empregos na indústria hoje ignora algumas mudanças importantes na economia:
- Mão de obra para outros países: Tarefas que exigem muita mão de obra costumam ser transferidas para países menos desenvolvidos, onde os custos são menores.
- Tecnologia no lugar de pessoas: Dentro das próprias fábricas, a tecnologia avança e máquinas e softwares substituem trabalhadores em tarefas repetitivas.
- Novos tipos de trabalho: A economia moderna cria cada vez mais empregos em áreas menos repetitivas e que exigem mais criatividade e conhecimento.
A Tendência de Produzir Mais Perto de Casa
Existe um movimento de empresas querendo produzir seus produtos mais perto dos consumidores. Essa “localização” da produção tende a usar ainda mais tecnologia para substituir trabalhadores estrangeiros. Ou seja, a tendência é que a parcela de empregos na indústria continue diminuindo.
Essa localização pode até trazer benefícios para a economia, reduzindo custos com transporte e logística, que muitas vezes encarecem os produtos para o consumidor final. No entanto, se essa tentativa de produzir localmente resultar em um aumento significativo de empregos na indústria, isso pode ser um sinal de que o desenvolvimento econômico está andando para trás.
Em resumo:
A nostalgia por um passado industrial com muitos empregos é compreensível, mas a realidade da economia em países desenvolvidos é outra. A tecnologia e a globalização transformaram a forma como as coisas são produzidas, e a tendência é que a indústria empregue cada vez menos pessoas. O foco dos políticos em “trazer de volta” esses empregos pode ser mais uma tentativa de se conectar com um sentimento nostálgico do que uma solução para os desafios econômicos do presente e do futuro.