Exceto iene, moedas asiáticas não gostam da guerra comercial

Divisa japonesa aparece como porto seguro em meio a turbulência atual

Lloyd Chan, Analista Sênior de Câmbio do MUFG Bank, publicou em relatório divulgado nesta quarta-feira (9) avaliação de como o iene se comportou em meio aos desdobramentos nos mercados da guerra comercial entre China e EUA.

A disputa comercial global está se intensificando, e quem mais está sentindo o baque são as economias da Ásia, por conta das tarifas de retaliação impostas pelo presidente Trump. Essa situação deve continuar a pesar sobre as perspectivas econômicas e as moedas asiáticas, com um impacto que varia de acordo com o tamanho dos aumentos de tarifas e o quanto esses países dependem do comércio internacional.

A tensão subiu de tom com a nova ameaça de Trump de taxar ainda mais as importações da China (em 50%) caso o país não recue nas suas tarifas de 34% sobre todos os produtos americanos. Se isso acontecer, a China poderia ter um aumento total de tarifas de 104% sobre seus produtos! A resposta da China foi firme: prometeu “lutar até o fim” se os EUA aumentarem ainda mais as tarifas, mostrando uma mudança na sua postura, que antes era mais comedida. Esse cenário elevou o risco de uma guerra comercial global em larga escala. Outros grandes parceiros comerciais dos EUA, como a União Europeia, também estão considerando retaliar com suas próprias tarifas.

A troca de farpas sobre tarifas entre EUA e China, juntamente com a retaliação chinesa, já causou bastante instabilidade nos mercados financeiros, o que pode ter consequências negativas para a economia mundial. Essa incerteza no comércio global também prejudicou a entrada de investimentos estrangeiros diretos (IED) na China e na Coreia do Sul nos primeiros dois meses de 2025. Os mercados estão prevendo mais cortes nas taxas de juros na Ásia este ano, como uma tentativa de impulsionar o crescimento econômico, principalmente na China e na Tailândia. Enquanto isso, nos EUA, o índice que mede a confiança das pequenas empresas caiu, mostrando uma preocupação crescente com o futuro. Em meio a essa turbulência, o dólar americano perdeu valor em relação ao iene japonês (-0,6%), com o iene se beneficiando da busca por ativos considerados mais seguros pelos investidores.

Moedas Asiáticas em Desvantagem Frente ao Dólar

De modo geral, as moedas asiáticas (excluindo o iene japonês) perderam valor em relação ao dólar americano. O Banco Central da China fixou uma taxa de câmbio diária mais alta para o par dólar/yuan (USDCNY), sinalizando que deve permitir uma maior desvalorização da sua moeda para tentar compensar parcialmente o impacto das tarifas. A cotação do yuan negociado fora da China (USDCNH) ultrapassou um patamar importante, atingindo um território desconhecido. Isso deve continuar a ter efeitos negativos nas moedas de outros países da região. As maiores quedas foram da rupia indonésia (-1,8%) e do baht tailandês (-1,8%), seguidas pelo dong vietnamita (-0,9%). A expectativa é de que essas moedas continuem a se desvalorizar.

Índia no Radar: Decisão sobre Taxa de Juros

O principal evento de hoje é a reunião do Banco Central da Índia (RBI). A expectativa é de um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, com o RBI focando em medidas para estimular o crescimento econômico.

Inflação Controlada na Indonésia e Taiwan, mas Riscos à Vista

Na Indonésia, a inflação geral em março ficou baixa, com os preços de alimentos e combustíveis sob controle. A inflação principal (que exclui itens mais voláteis) se manteve estável. Apesar disso, a desvalorização da rupia em comparação com outras moedas da região pode fazer com que o Banco Central da Indonésia mantenha as taxas de juros inalteradas em abril. A instabilidade da rupia e o custo para segurar a dívida do país também aumentaram.

Em Taiwan, a inflação geral subiu em março. No entanto, o aumento dos riscos para o crescimento econômico devido a um aumento de 32% nas tarifas americanas sobre produtos taiwaneses pode levar o Banco Central de Taiwan a cortar a taxa de juros na próxima reunião trimestral, em junho.

Veja agora análise sobre como funciona a valorização do iene em momentos de estresse do mercado


Como Funciona a Valorização do Iene para Fuga a Ativos de Menor Risco (Portos Seguros):

A valorização do iene japonês em momentos de incerteza econômica e turbulência nos mercados financeiros está ligada ao seu papel como um “porto seguro” para os investidores. Imagine que, em um mar agitado (mercados voláteis), os navios (investimentos de maior risco, como ações de países emergentes) procuram um porto seguro para se proteger da tempestade. O iene, historicamente, tem sido um desses portos seguros.

As principais razões para o iene ser considerado um porto seguro são:

  1. Baixas Taxas de Juros: O Japão tem mantido taxas de juros muito baixas por um longo período. Isso significa que os investidores não ganham muito ao manter seu dinheiro em ienes em tempos normais. No entanto, em momentos de crise, a prioridade muda de buscar altos retornos para preservar o capital. Juros baixos tornam o iene menos atraente para empréstimos especulativos de curto prazo (“carry trades”), o que evita grandes vendas da moeda em momentos de pânico.
  2. Grande Base de Investidores Domésticos: O Japão possui uma grande quantidade de poupança doméstica e investidores institucionais que tendem a repatriar seus investimentos estrangeiros (trazer o dinheiro de volta para o iene) em tempos de incerteza global. Essa demanda por iene impulsiona seu valor.
  3. Posição de Credor Líquido: O Japão é um dos maiores credores líquidos do mundo, ou seja, possui mais ativos no exterior do que dívidas. Em momentos de crise global, investidores podem acreditar que o Japão está em uma posição financeira mais sólida para enfrentar a turbulência, tornando o iene mais atraente.
  4. Percepção de Estabilidade: Historicamente, o Japão tem sido visto como um país com um sistema financeiro relativamente estável, apesar de seus próprios desafios econômicos. Essa percepção de estabilidade atrai investidores em busca de segurança.

Como a “fuga para a segurança” valoriza o iene:

Quando os investidores ficam preocupados com eventos como guerras comerciais, crises econômicas, instabilidade política ou quedas acentuadas nos mercados de ações, eles tendem a reduzir sua exposição a ativos considerados mais arriscados. Isso inclui ações, títulos de dívida de países mais vulneráveis e moedas de mercados emergentes.

Ao mesmo tempo, esses investidores procuram ativos considerados mais seguros para proteger seu capital. O iene entra nessa categoria. A demanda por iene aumenta à medida que os investidores vendem seus ativos de maior risco e compram a moeda japonesa. Essa maior demanda, seguindo a lei da oferta e da procura, faz com que o valor do iene suba em relação a outras moedas.

Em resumo, a valorização do iene durante períodos de fuga para ativos de menor risco ocorre porque os investidores globais o percebem como um refúgio seguro em meio à turbulência. Suas baixas taxas de juros históricas, grande base de investidores domésticos, posição de credor líquido e percepção de estabilidade contribuem para essa demanda, impulsionando seu valor. É como um porto calmo onde os investidores buscam abrigo durante uma tempestade financeira global.

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