O que esperar de 2025? Confira visão completa de banco de Wall Street

Trump, inflação, tarifas, regulação, valuations, Europa, China e emergentes em foco

Após a eleição de Donald Trump nos EUA, cresceram as expectativas em torno de como o novo governo da maior economia do mundo conduzirá sua política e os efeitos em todo o mundo.

Para delinear possíveis cenários, a equipe de análise do Goldman Sachs apresentou suas visões de como o ano de 2025 acontecerá para os mercados.    

Otimismo

Inicialmente, enquanto 2025 não chega, o Goldman Sachs ressalta o otimismo frente à normalização da economia global pós-pandemia, citando o crescimento mundial de 2,7% em 2024, “similar ao ritmo de 2023 e um pouco acima da nossa estimativa do PIB potencial, com o crescimento norte-americano ainda liderando no grupo dos países desenvolvidos”.

A equipe de análise formada por Jan Hatzius, Dominic Wilson, Joseph Bridges, Vickie Chang, Giovanni Pierdomenico, Sarah Dong e Megan Peters destaca que os mercados de trabalho estão balanceados ao redor do mundo, com taxas de desemprego próximas ao nível pré-pandêmico.

Outro ponto de destaque é a tendência baixista da inflação, com redução da distância em relação às metas dos principais bancos centrais do mundo, que “estão indo bem no processo de cortes de taxas de juro de volta a níveis normais”.

Efeitos do novo governo

O Goldman Sachs projeta que o novo governo de Donald Trump terá como pano de fundo os seguintes fatores: elevação das tarifas para a China e para a indústria automobilística, redução da imigração, novos cortes de impostos e flexibilização regulatória.

Do lado do comércio internacional, estima-se aumento médio para 60% em tarifas de bens oriundos da China. Também é esperada elevação de 22,5 pontos percentuais na tributação de automóveis da Zona do Euro e forte aumento de 975 pontos-base nas tarifas de importação de veículos elétricos chineses com fabricação no México, de acordo com o cenário-base do Goldman Sachs.

Cada ponto-base equivale a 0,1%. Ou seja, se um item custa R$ 100,00 e sofre aumento de 200 pontos-base em seu preço, agora terá novo preço de R$ 120,00 – elevação de 20%.  

Existem cenários de risco, como um plano mais amplo de aumento generalizado de todos os tributos, de 10 pontos percentuais, ou uma taxação sobre a importação de todas as importações de automóveis; e a revogação das Relações Comerciais Normais Permanentes (PNTR), em inglês Permanent Normal Trade Relations, com a China.

Neste acordo, os EUA tratam a China como qualquer outro país em relação às exportações com mesmas tarifas de Pequim e com igualdade nas restrições de comércio internacional. Para revogação do PNTR, é preciso aprovação legislativa.

Na questão imigratória, o Goldman Sachs estima a possibilidade de redução de aproximadamente 750 mil pessoas por ano no cenário-base de análise. Como riscos a este panorama, a deportação seletiva de imigrantes com antecedentes criminais (cerca de 1,2 milhão de indivíduos) e a expulsão forçada através do “Modelo Eisenhower” de mais de 2,1 milhões de indivíduos.

O termo “Modelo Eisenhower” é utilizado na questão migratória em referência à Operação Wetback, série de deportações em massa de trabalhadores mexicanos durante a presidência de Dwight David Eisenhower na década de 1950 com foco na redução da imigração ilegal e na proteção de empregos para cidadãos norte-americanos.

A Operação Wetback foi marcada pela deportação em grande escala com a ajuda do exército, possuía natureza coercitiva e frequentemente era realizada de forma abrupta e violenta, gerando impactos sociais e econômicos pela redução da mão de obra na agricultura dos EUA.  

Política fiscal

O Goldman Sachs espera que ocorra extensão dos cortes de impostos corporativos já no início de 2025 e aumento da dedução dos Impostos Estaduais e Locais (SALT), em inglês State and Local Taxes, em US$ 30 bilhões.

No contexto da política fiscal da maior economia do mundo, o SALT configura-se como um abatimento tributário que permite a dedução de impostos estaduais e locais pagos pelos contribuintes ao longo do ano da tributação federal.  

Em adição, o banco projeta que poderá ocorrer exclusão de 50% das horas extras do Imposto de Renda, movimento estimado em US$ 20 bilhões ao ano; não incluir gorjetas na tributação pessoal, redução da arrecadação da ordem de US$ 10 bilhões por ano e diminuição de 15% nos impostos das indústrias nacionais.

Outros pontos levantados do lado fiscal é o restabelecimento de incentivos corporativos, envolvendo bônus, gastos com P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), redução de juros para financiamentos, com efeito estimado de US$ 60 bilhões ao ano na arrecadação fiscal.

Em compensação, o banco acredita que poderá ocorrer reduções na Lei de Assistência Social (ACA), em inglês Affordable Care Act, conhecido como Obamacare, de US$ 20 bilhões e limitações nos subsídios de temas ambientais da ordem de US$ 15 bilhões.

Regulação

No campo regulatório-institucional, o banco projeta flexibilização das leis antitruste, com liberação de casos pendentes no setor de tecnologia.

No setor energético, estima-se maior facilidade para projetos, com expansão das exportações de GNL (Gás Natural Líquido) e reversões em restrições na emissão de gases de efeito estufa.

Na parte financeira, o Goldman Sachs projeta flexibilização dos termos regulatórios para instituições do setor focadas no financiamento a consumidores, menores exigências de liquidez e afrouxamento do capital de médio prazo.

Estimativas

Como resultado de tudo isso, a equipe de análise projeta crescimento da economia norte-americana de 2,5% em 2025, acima das expectativas do mercado e de outros países desenvolvidos pelo terceiro ano consecutivo.

Caso ocorra tributação generalizada de 10% por Donald Trump, cenário de risco do banco, a avaliação é de ocorrer maior probabilidade de períodos de incertezas com condições financeiras mais restritas e efeitos negativos no crescimento.

No cenário-base, os efeitos da nova política sobre o PIB dos EUA são pequenos, porém sentidos mais em 2025 e compensados em 2026. “A nova administração provavelmente anunciará tarifas para a China e no setor automotivo relativamente cedo após a inauguração do governo em 20 de janeiro, o que pode despertar incertezas sobre medidas tributárias mais amplas nas empresas e nos participantes do mercado”, apontam os analistas.

Em resultado, as tarifas podem resultar em pequeno dano à renda pessoal disponível através de preços mais elevados aos consumidores. Outra preocupação no radar do Goldman Sachs é o quanto a escalada da guerra comercial pode pesar nos investimentos das companhias.

Como decorrência, a equipe de análise estima efeito negativo líquido de 20 pontos-base no PIB dos EUA em 2024. Caso não haja escalada da guerra comercial, os desdobramentos positivos da tríade formada por cortes de impostos, ambiente regulatório mais amigável e dominância dos “espíritos animais” nas empresas em 2026 pode elevar o PIB em 0,3 ponto percentual.

O termo “espírito animal” foi cunhado pelo economista John Maynard Keynes e refere-se as emoções, instintos e confiança que influenciam nas decisões econômicas dos indivíduos. São os impulsos que nos levam a investir, consumir ou poupar, sendo a “alma” da economia e as partes emocional, instintiva e imprevisível que movem as forças do mercado.

Preços mais altos

No campo da inflação, estima-se que atingirá 2,4% no final de 2025, patamar acima da última projeção de 2% listada pela instituição, porém ainda benigna. “Nossa estimativa aumenta para 3% com uma taxação de 10% de itens internacionais”, avalia o banco.

O Goldman Sachs ressalta que a experiência vista no primeiro governo de Donald Trump mostra que as tarifas são amplamente repassadas aos consumidores, resultando em preços mais elevados. Como consequência, estima-se aumento de 0,3 a 0,4 ponto percentual no nível de preços. Caso haja elevação generalizada de 10% nas tarifas, a expectativa é de alta de até 120 pontos-base na inflação.

A despeito de efeitos de segunda ordem em salários e expectativas, o banco avalia que desdobramentos positivos novo panorama fiscal poderão ser sentidos em 2025 e 2026.

Efeitos de segunda ordem em salários ocorrem por conta da necessidade de aumento dos valores pagos aos trabalhadores diante do encarecimento dos bens e serviços. Em relação às expectativas, os agentes podem projetar níveis superiores inflacionários caso as tarifas impactem demasiadamente os níveis de preço corrente.

De olho no Fed

O Goldman Sachs espera que haja mais cortes no juro básico dos EUA em 2025, porém em ritmo mais lento, mantendo o processo de afrouxamento monetário. Espera-se reduções na Fed Funds Rate até a taxa terminal de 3,25% a 3,5%. A expectativa é de cortes consecutivos durante o primeiro trimestre e depois diminuição da velocidade da flexibilização monetária, com postura mais dovish.

Dovish e hawish são termos que referem-se à condução da política monetária pelos bancos centrais. O primeiro termo deriva de “pomba”, em inglês dove, e traz analogia ao voo mais suave da ave. Por sua vez, a segunda nomenclatura refere-se a “falcão”, em inglês hawk, em comparação com o voo mais agressivo do animal.

Uma postura mais dovish pelo banco central indica a existência de maior permissividade em relação aos níveis de preços, ou seja, a existência de um menor temor com a inflação, resultando em resposta mais demorada da autoridade monetária via retardo do aumento ou redução mais lenta do juro básico. Já postura hawkish indica o contrário: medidas mais proeminentes para combater a inflação.

O próximo encontro do Comitê Aberto de Política Monetária (FOMC), em inglês Federal Open Market Committee, ocorre entre 17 e 18 de dezembro deste ano.

Em 2025, as reuniões ocorrerão em 28 e 29 de janeiro; 18 e 19 de março; 6 a 7 de maio; 17 a 18 de junho; 29 a 30 de julho; 16 a 17 de setembro; 28 a 29 de outubro e; 9 a 10 de dezembro.

Reuniões de março, junho, setembro e dezembro são acompanhadas de projeções oficiais da autoridade monetária para PIB, taxa de desemprego, inflação e juro básico.

Desdobramentos globais

Do outro lado do Atlântico, a expectativa é que a inflação volte à meta do Banco Central Europeu (BCE) de 2% no final de 2025, mesmo com uma possível escalada da guerra comercial.

A projeção do PIB da Zona do Euro foi cortada para 0,8% – patamar abaixo do consenso de mercado. A justificativa é composta por problemas de ordem estrutural na região e incertezas no comércio internacional.

A expectativa é que o BCE reduza o juro básico até a taxa terminal de 1,75%. A projeção alinha-se com a expectativa de menor crescimento na região, indicando maiores estímulos do lado monetário para propulsão do PIB.

A próxima reunião do BCE ocorrerá em 12 de dezembro. No próximo ano, esperam-se encontros em 30 de janeiro, 6 de março, 17 de abril, 5 de junho, 24 de julho, 11 de setembro e 18 de dezembro.  

Ao comparar com o primeiro mandato de Donald Trump, o Goldman Sachs projeta que as incertezas das políticas de comércio internacional podem resultar em queda de 0,9 ponto percentual do PIB real da Zona do Euro.

Para o Reino Unido, a projeção é que o Bank of England (BoE), banco central da Inglaterra, reduza o juro básico até o patamar de 3,75% no final de 2025, com taxa terminal de 3,25% no segundo trimestre de 2026.

Existe expectativa de cortes mais agressivos em bancos centrais menores de países desenvolvidos, como o Bank of Canada (BoC), Reserve Bank of New Zealand (RBNZ), Riksbank e Swiss National Bank (SNB), autoridades monetárias de Canadá, Nova Zelândia, Suécia e Suíça, respectivamente.

Fora da curva

Como outlier, espera-se que o Bank of Japan (BoJ), banco central do Japão, realize novos aumentos do juro básico diante do crescimento dos salários e do avanço no nível geral de preços.

Diante de elevados níveis de poupança, o Japão lutava contra períodos deflacionários, acarretando na desaceleração econômica; na dificuldade das empresas obterem lucros, pela redução dos preços de forma a manter a competitividade; e no aumento da dívida real.

Neste contexto, o Banco Central do Japão (BoJ), em inglês Bank of Japan, adotou política monetária de expansão, procurando atingir a meta de 2% ao ano, nível considerado saudável para a maioria das economias.

Por conta disso e, ao contrário da maioria dos países no mundo, sinais inflacionários no Japão são bem-vindos.

Vale destacar que a economia nipônica encontra-se próximo a estado de perfeição em termos de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), avanço tecnológico, infraestrutura e estabilidade político-social.   

A expectativa é que o núcleo da inflação japonesa apresente variação positiva de 2,1% na base anual em 2025 e de 2% em 2026. Este ritmo é condizente à projeção do Goldman Sachs de aumentos graduais de 25 pontos-base no juro básico para encerrar o próximo ano em 0,75%. A previsão da taxa terminal é de 1,5% em 2027.  

Neste ano o BoJ se reúne em 18 e 19 de dezembro. Em 2025, a autoridade monetária realiza encontros nas seguintes datas: 23 de janeiro, 18 de março, 30 de abril, 16 de junho, 30 de julho, 18 de setembro, 29 de outubro e 18 de dezembro.

Emergentes e inflação em foco

Em linha, o banco reduziu a projeção de crescimento da China para 4,5% diante do aumento das tarifas. O impacto no cenário-base é de impacto negativo de 0,7 ponto percentual no PIB da China em 2025.

Com a resposta de Pequim via estímulos macroeconômicos e desvalorização cambial, a expectativa é de queda de 20 pontos-base na projeção de crescimento da segunda maior economia do mundo, chegando no patamar de 4,5%.

No entanto, os analistas não descartam possíveis reduções das expectativas de crescimento caso haja escalada da guerra comercial ou medidas mais agressivas de Donald Trump, como o fim do PNTR.

No todo, estima-se queda de 0,4% do PIB global pelos efeitos danosos ao comércio internacional, apesar de políticas locais reduzirem os efeitos negativos. O impacto pode ser de duas a três vezes superior se os EUA impuserem tarifa generalizada de 10% em todos os produtos.

Os efeitos inflacionários para o mundo devem ser diminutos e o Goldman Sachs destaca que o núcleo da inflação da média móvel de três meses encontra-se próximo da meta do banco central para a maioria das economias desenvolvidas.

O núcleo da inflação deve-se manter baixo devido ao crescimento contínuo das exportações chinesas e normalização dos estoques na Europa. Ao mesmo tempo, espera-se que os níveis de preços de aluguéis continuem a apresentar sinais de arrefecimento, principalmente nos EUA.

O núcleo da inflação é a mudança nos custos de bens e serviços na economia, excluindo combustíveis e alimentos. Esta medida é importante por mostrar quão sólidos estão os aumentos dos preços, visto que exclui estes dois itens mais voláteis.

O Goldman Sachs destaca a normalização do mercado de trabalho das principais economias do mundo a níveis pré-pandêmicos. Como os serviços são sensíveis a custos laborais, a expectativa de redução da inflação ganha corpo.

A relação entre salários e inflação foi proposta pelo economista John Brian Taylor, fundador da “Regra de Taylor”, na qual taxas de juro mais altas proporcionam redução do crédito, podendo desacelerar a economia e reduzir a pressão altista sobre os salários. Por sua vez, taxas mais baixas ampliam o crédito, estimulam a economia e elevam os salários. A vigilância dos efeitos do mercado de trabalho sobre a inflação deriva desta dinâmica.

Neste panorama, o banco projeta redução na inflação de salários em 2025, com retorno do nível geral de preços ao centro da meta na Zona do Euro e no Canadá, no patamar de 2% ao ano, no limiar do próximo ano.

Nos EUA, no Reino Unido e na Austrália, provavelmente a inflação deverá rondar a casa de 2,5%. Há estimativas de declínios adicionais em 2026.

Há expectativa de cortes de juros em países emergentes, porém o Goldman Sachs ressalta que a única exceção é o Brasil, em que uma antecipação de uma economia superaquecida resultará em aumentos de 150 pontos-base durante o primeiro semestre de 2025, levando a Selic a 12,75%.

No segundo semestre de 2025, a expectativa é de cortes sucessivos de 125 pontos-base até o patamar de 11,5% no final do próximo ano.

As projeções de crescimento para o Brasil são de 3,1% em 2024, 2% em 2025 e 2,3% em 2026.

Valuations

O Goldman Sachs avalia que a resiliência do crescimento norte-americano ainda proverá suporte para performance acima dos pares para as ações nos EUA, com desempenho abaixo do esperado de títulos da maior economia do mundo, embora seja esperada valorização do dólar.

Existe expectativa de performance superior de ações de mercados emergentes na comparação com a renda fixa global. Para evitar riscos de cauda, a equipe de análise do banco sugere a diversificação.

A instituição pondera riscos tanto de inflação quanto oriundos do campo político, particularmente nos próximos meses com a implementação da agenda de Donald Trump.

Como o mercado pode oscilar entre estes diferentes riscos, os analistas recomendam manter exposição aos títulos públicos norte-americanos e alemães, por acreditarem que a correlação entre renda fixa e mercado acionário deverá caminhar para baixo no médio prazo.

Ações de capitalização média nos EUA e posições em dólar devem, de acordo com o Goldman Sachs, também fornecer proteção contra riscos de tributos e de aumentos nas taxas de juro.

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